Sudão do Sul completa 10 anos de independência; história do país é marcada por guerras e crises devastadoras

0
153

Após anos de conflitos, que levaram milhares de pessoas a deixarem suas casas, lados políticos do país chegaram a um acordo. Porém, confrontos e tensões ainda preocupam a ONU. Sudão do Sul, o país mais jovem do mundo, completa 10 anos
O Sudão do Sul completa 10 anos de independência nesta sexta-feira (9), após se tornar o 193º país reconhecido mundialmente. O presidente Salva Kiir prometeu em discurso não levar novamente à guerra um país já mergulhado na violência e em uma grave crise humanitária.
“Garanto que não os colocarei na guerra novamente. Vamos todos trabalhar juntos para nos recuperar da última década e recolocar nosso país no caminho do desenvolvimento”, disse Kiir em um discurso em inglês.
SAIBA MAIS: Entenda os fatores envolvidos na independência do Sudão do Sul
O presidente também saudou o novo espírito de diálogo entre os lados políticos e colocou economia e segurança como suas prioridades.
Presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, em discurso do aniversário de 10 anos do país
Peter Louis Gume/AFP
Em dezembro de 2013, o Sudão do Sul mergulhou em uma guerra civil que, em cinco anos, causou mais de 380 mil mortes, cerca de quatro milhões de deslocados — um terço da população.
Em setembro de 2018, um acordo de paz foi oficialmente assinado entre Salva Kiir e seu rival Riek Machar, que agora governam o país como presidente e vice-presidente, respectivamente.
Obstáculos à paz
População do Sudão do Sul em um centro da ONU para proteção de civis, em foto de 2018
Albert Gonzalez Farran/MSF
Dez anos após sua independência, a situação no Sudão do Sul piorou: altos índices de violência, uma crise econômica com inflação galopante e os maiores níveis de insegurança alimentar e desnutrição desde a independência, segundo a ONU.
Cerca de 60% da população sofre de insegurança alimentar, incluindo 108 mil pessoas em risco de fome, de acordo com o Programa Mundial de Alimentos (PMA).
A fragilidade das instituições, a corrupção e a miséria fizeram disparar a violência entre etnias e o crime em muitas regiões que escapam à autoridade do Estado.
Soldados de oposição são vistos em Jiech, no condado de Ayod, no Sudão do Sul, em foto de 8 de dezembro de 2017
AP Photo/Sam Mednick
O acordo de 2018 previa uma série de medidas para evitar uma nova guerra, mas muitas delas não foram implementadas.
“O país ainda enfrenta inúmeros obstáculos para uma paz duradoura, como a ausência de uma força de segurança unificada, a insegurança ligada a conflitos entre comunidades e a criminalidade oportunista”, comentou a missão da ONU no Sudão do Sul (UNMISS) em um comunicado.
A missão pediu aos líderes que “aproveitem esta oportunidade para transformar as esperanças e sonhos de dez anos atrás em realidade”.
Segundo a ONU, mais de 80% das vítimas civis registradas em 2021 sofreram violência entre comunidades, ou atos de milícias.
Os armazéns de ajuda humanitária e as equipes humanitárias também são alvo de violência: sete trabalhadores humanitários foram mortos este ano no país.
Discurso e corrida
Soldado do exército do Sudão do Sul anda no campo de batalha de Panakuach, no estado de Unidade, nem 2016
Goran Tomasevic/Reuters
Em seu discurso, Salva Kiir insistiu nos avanços obtidos, embora tenha dito estar “perfeitamente ciente de que temos muito que fazer para alcançar a segurança total no país”.
Embora a formação de um Exército unificado mal tenha avançado, o presidente indicou que 53 mil membros das forças de segurança estão “prontos para se formar”.
Sinal do desencanto generalizado, o país não comemora oficialmente sua independência desde 2014. Agora, em 2021, as autoridades determinaram que fosse celebrada em privado, oficialmente devido à pandemia da covid-19.
Além do discurso presidencial, o único evento público foi uma corrida de 10 quilômetros em Juba, a “Grande Corrida do Sudão do Sul”.
Estava agendado o juramento dos deputados do Parlamento “reconstituído”, cuja composição foi anunciada em maio. A cerimônia foi adiado, sem qualquer explicação por parte das autoridades políticas.
Segundo uma composição negociada entre os signatários do acordo de 2018, esta “reconstituição” do Parlamento é uma das medidas tomadas para se evitar uma nova guerra.
Em uma mensagem aos líderes do país, o papa Francisco encorajou-os a fazer mais para que seus cidadãos possam “gozar plenamente dos frutos da independência”.
“Seu povo continua a viver com medo e incerteza”, lamentou.

Fonte: G1 Mundo