Ensinando a fera: veterinário usa costela de vaca para fazer filhote de onça aprender a comer carne

0
76

‘Cantão’, como é chamado, nasceu em cativeiro e recentemente ganhou um novo lar, o Instituto Vale Rico. Criadouro conservacionista fica em Abreulândia e acolhe vários animais silvestres; veterinário faz sucesso na web mostrando a rotina dos moradores. Oncinha experimenta carne com osso pela primeira vez
Um filhote de onça-pintada experimenta os primeiros pedaços de carne, enquanto um tamanduá-bandeira toma um leite especial na mamadeira. No outro canto, araras se refrescam em um banho gelado para amenizar o calor no Tocantins. O lar desses bichinhos fica em uma fazenda no município tocantinense de Abreulândia, na região do Cantão, uma das mais importantes áreas de conservação do Brasil.
A fazenda que atua no setor do agronegócio, na criação de gado e no plantio de grãos, também serve de base para o Instituto Vale Rico, um criadouro conservacionista que tem como objetivo manter, reproduzir, reabilitar e reintroduzir os animais silvestres na fauna. (Veja abaixo mais informações sobre a história do instituto)
O veterinário junto com a onça-pintada chamada Cantão
Reprodução/Instagram
O médico veterinário, Leonardo Egon Lorentz, de 31 anos, filho dos donos da fazenda, divide a rotina entre o agronegócio e a conservação das espécies silvestres.
Nas redes sociais, ele chama a atenção ao compartilhar o dia a dia no local. Um vídeo mais fofo que o outro. Em um dos registros, ao som de uma trilha sonora romântica, uma arara-canindé pousa no braço do profissional para se alimentar. Em outro vídeo, uma ave pousa em um porquinho para pegar carona e dar uma voltinha.
“Eu sou apaixonado por tudo isso, tenho a vida que eu pedi a Deus, não posso reclamar de nada, sempre sonhei em ser veterinário. Na infância, eu dizia que queria ter um zoológico e eu nunca imaginei que o instituto tomaria proporções grandes e chegaria a ter uma onça-pintada, por exemplo”.
A onça-pintada a que Leo se refere chegou há alguns meses e recebeu o nome de Cantão para homenagear essa região do Tocantins. Já é conhecido pelos seguidores no Instagram. Tem vídeo de apresentação e tudo mais. Por ter nascido em um criadouro localizado em Almas, não consegue viver sozinho, solto na natureza.
Cantão recebendo carinho do médico veterinário
Reprodução/Instagram
No dia a dia, Leo mostra as refeições do Cantão. A onça começou a tomar leite, depois passou a comer carne moída. Dias atrás, experimentou, pela primeira vez, uma carne com osso, frango e pedaços de peixe.
“Ele estava no leite específico, passou para a carne moída misturada com o leite para ir se acostumando com a carne. E depois começamos a colocar pedaços maiores de carne para estimular a mastigação. Naquele dia que fiz o vídeo, foi a primeira vez que dei um pedaço de osso. Foi mais para enriquecimento ambiental, para brincar e gerar esse contato. Ele estranhou porque nunca tinha visto o pedaço de carne daquele tamanho. Cada adaptação, precisa ser incluída devagar”, explicou o veterinário.
Leonardo com parte das aves, moradoras do Instituto Vale Rico
Reprodução/Instagram
Os pais de Leonardo apoiam o projeto e ajudam no cuidado com os bichos. Nos fins de semana, aproveitam para pescar na represa da fazenda e garantir mais uma novidade na refeição do Cantão. Carinhoso, o veterinário brinca com a oncinha e faz carinho, como se fosse um bebezinho. Mas, ele sabe que daqui a algum tempo, isso será praticamente impossível.
“Como ele nasceu em cativeiro, ele é manso. O Cantão nos estranhava nos primeiros dias e eu fui incluindo cada vez mais pessoas no cuidado dele, porque é importante esse contato. A gente brinca, mas daqui um ano e pouco, a gente não vai aguentar as brincadeiras dele, não é um gatinho que vai ficar mordendo. Eles são fortes, pulam, arranham. A força e o tamanho vão triplicar. Mas a ideia é deixá-lo manso para facilitar o manejo porque ele vai ficar em cativeiro”.
A ideia do projeto é que o Cantão faça parte de um programa de reprodução de onças-pintadas em cativeiro para ajudar a espécie a sair da lista de animais ameaçados de extinção. Inclusive, o instituto deve receber uma fêmea para garantir a formação da família.
Araras foram as primeiras moradoras do Instituto Vale Rico
Reprodução/Instagram
Na internet, uma vaquinha foi criada para arrecadar dinheiro e construir um espaço maior para a família de onças que será formada com o passar do tempo, além de outros animais que chegarão no espaço. Leonardo quer deixar o lugar confortável e seguro para os bichos.
O instituto não tem fins lucrativos e sobrevive com a ajuda de doações e o investimento de empresas. O dinheiro que ele arrecada no Instagram, através de publicidade, também é direcionado ao projeto.
Lar, doce lar
Vídeos que mostram rotina dos animais em instituto fazem sucesso na internet
Leonardo se formou em medicina veterinária em 2011 em uma faculdade de Goiás. No ano seguinte, se mudou para o Tocantins, onde começou a atuar como profissional responsável pela pecuária e agricultura da fazenda Vale Rico.
Na época, uma moradora da região, que criava uma arara, disse que queria entregá-la para Leonardo porque a ave ‘gritava muito’. Ele passou a cuidar do animal e a postar o dia a dia com ele nas redes sociais. “Era tudo de forma ilegal porque na época eu não tinha muita noção da legislação”.
Leonardo Lorentz é médico veterinário
Reprodução/Instagram
O veterinário é responsável pela pecuária e agricultura, atividades desenvolvidas na fazenda Vale Rico
Reprodução/Instagram
Os vídeos chamaram a atenção de uma moradora de Palmas, que também se interessou em entregar uma arara para que a ave pudesse viver em meio à natureza, sob os cuidados de um profissional experiente.
“Comecei a ficar com receio e procurei o Naturatins. Falei que eu era veterinário e procurei saber de que maneira poderia me legalizar, falei que tinha tempo livre e queria usar o espaço para ajudar de alguma forma. Quando o Naturatins viu onde a fazenda estava localizada, o interesse cresceu porque fazemos parte da APA do Cantão. Na nossa região tem um corredor verde que liga o rio Caiapó ao Araguaia. Era uma região ideal e que poderia se tornar uma área de soltura de animais”, disse.
Leonardo diz ser apaixonado pelos animais
Reprodução/Instagram
Com a situação legalizada, o veterinário recebeu o termo de fiel depositário e passou a ser responsável pela guarda e cuidado de animais silvestres. Anos depois, surgiu o interesse de ter um criadouro licenciado. Nasceu, então, o Instituto Vale Rico.
Em Almas, há outro criadouro conservacionista que também cuida dos animais. Por lá, um casal de onças-pintadas reproduziu nove filhotes. Os responsáveis entraram em contato com Leonardo e perguntaram se tinha espaço para uma oncinha na fazenda. Foi assim que o Cantão chegou ao Instituto Vale Rico.
Outro animalzinho que dá os primeiros passos no local é o Ricco, um filhote de tamanduá-bandeira. Ele tinha alguns dias de nascido, quando foi encontrado em uma pastagem, sendo devorado por urubus.
“Os filhotes de tamanduá-bandeira não se desgrudam de suas mães, então provavelmente algo aconteceu com a mãe do Ricco. Eu busquei ele e entrei em contato com o Instituto Tamanduá, eles me deram um suporte na dieta, me ajudaram a identificar se era fêmea ou macho. Por mais que eu tenha conhecimento técnico, é sempre bom contar com profissionais experientes”.
LEIA TAMBÉM:
Vídeo mostra jacaré saltando e abocanhando drone de R$ 7 mil em pleno voo: ‘Primeira vez que usei’
VÍDEO: Jacaré gigante é retirado de lago com pá carregadeira no Tocantins
Novo vídeo mostra jacaré gigante lutando contra captura em lago no Tocantins
O Ricco agora é super paparicado e está vivendo de boa na fazenda. Ainda novinho, ele se alimenta com uma mamadeira. “Tem uma dieta especial que inclui ração de gato, creme de leite e leite zero lactose”, relatou.
Fazenda Vale Rico fica localizada no município de Abreulândia, próximo à região do Cantão
Reprodução/Instagram
O objetivo é fazer a reabilitação do animalzinho e depois fazer a soltura monitorada. “Quem sabe ele não será o primeiro tamanduá criado em cativeiro reabilitado no Tocantins?”.
Além de cuidar do gado e dos animais que passam a viver no instituto, o veterinário também precisa cuidar dos cães e outros bichinhos da fazenda. Recentemente, ele ajudou um gansinho a nascer. O vídeo fofo fez sucesso na web. “Acabou a energia da chocadeira, parou de ventilar e ressecou o ovo. É o meu hobby. Os gansos são da fazenda, mas acaba que tudo fica ligado”.
Leonardo posta rotina dos animais nas redes sociais
Reprodução/Instagram
Esse profissional, que é apaixonado pelos animais, acorda cedo para dar conta da rotina. Logo depois que o sol nasce, ele já está de pé preparando a comilança d bicharada. E ao longo do dia precisa seguir com os trabalhos da fazenda. Por causa da demanda, o instituto conta com a ajuda de quatro funcionários, mas todos os outros acabam colaborando.
“Os vizinhos ajudam também na alimentação das aves, doam mamão, coco, manga, todo mundo está entendendo o propósito do instituto”, disse orgulhoso.
Nesta semana, equipes do Naturatins fizeram a soltura de aves na região. Algumas voaram para longe. Outras, que tinham sido domesticadas, ficaram nas árvores que rodeiam a fazenda, bem perto dos humanos e dos bichos que já estão por lá. E se sentiram à vontade para passear pelas fazendas vizinhas. Leonardo fez vídeo mostrando o momento em que foi buscar algumas delas em uma propriedade próxima.
Todos são bem-vindos e bem alimentados no Vale Rico. A ideia é se especializar ainda mais para que os bichos não precisem ser enviados para criadouros de outros lugares do país.
“O Tocantins é bem novo nisso, mas eu acho importante manter os animais aqui. Temos o órgão que cuida da fauna estadual, tem que deixá-los aqui, fazer projetos de conservação aqui”.
A pecuária é uma das principais atividades econômicas da fazenda
Reprodução/Instagram
O veterinário é responsável por cuidar dos bichos criados na fazenda
Reprodução/Instagram
Veja mais notícias da região no g1 Tocantins.

Fonte: G1 Tocantins