Após quase 50 mortes, protestos por renúncia da presidente do Peru chegam a Lima

0
47

Capital peruana terá manifestações nesta sexta (13) pela primeira vez. Atos protestam contra governo interino após ex-presidente Pedro Castillo ser destituído e preso por tentar um golpe de estado. Mulher passa debaixo de tronco de árvore em ponte interditada em Cusco pelos protestos que pedem renúncia da presidente do Peru, Dina Bolutarte, em 07 de janeiro de 2023.
Hugo Courotto/ Reuters
Manifestantes que há mais de um mês protestam no Peru pedindo a renúncia da presidente do país, Dina Boluarte, anunciaram atos em Lima pela primeira vez desde o início dos atos, que se tornaram conflitos violentos com policiais.
A chegada à capital peruana é uma importante escalada nos protestos, que se concentravam na região andina do país. Os atos pedem novas eleições no país e a renúncia de Boluarte, que assumiu o poder após o ex-presidente Pedro Castillo ser preso após tentar um golpe de estado.
A situação atual é a seguinte:
As manifestações acontecem principalmente em cidades turísticas como Cusco, Arequipa e Puno, onde começou o movimento;
Segundo registros oficiais, 48 pessoas já morreram durante as manifestações;
Por conta dos conflitos, o aeroporto de Cusco, cidade que costuma estar repleta de turistas e por onde se chega a Machu Picchu, foi fechado;
Os atos são organizadas por setores mais radicais de apoiadores do ex-presidente Pedro Castillo e sindicatos camponeses;
Os manifestantes denunciam uso desproporcional das forças por parte da polícia.
Confrontos no Peru deixam 18 mortos em um dia
Na quinta-feira (12), houve bloqueios em estradas por manifestações em dez das 25 regiões do país. Em Puno, epicentro do movimento, começaram a ser enterrados os corpos das 17 vítimas dos confrontos da última segunda-feira com as forças de ordem em Juliaca.
Foi o dia mais violento desde o início dos confrontos. Uma bebê recém-nascida também morreu ao não conseguir chegar a um hospital por conta dos bloqueios.
LEIA MAIS:
Entenda os protestos políticos que deixaram quase 50 mortos no Peru
Após mortes em protestos, presidente do Peru será investigada por genocídio
Rondonienses presos há quatro dias no Peru ficam em meio a confronto: ‘a gente pensou que ia morrer’
A chegada dos atos em Lima preocupa o governo, que afirmou haver uma tentativa de golpe por parte dos manifestantes.
“A mobilização na capital faz parte de um golpe que querem realizar contra Lima nos próximos dias”, disse o chefe de gabinete do governo, Alberto Otárola.
Otárola, que obteve na terça-feira (10) um voto de confiança no Congresso dominado pela direita, afirmou que as forças de segurança do país defenderão a capital peruana. Ele responsabiliza o ex-presidente preso Pedro Castillo por inflamar os manifestantes. Castillo está preso desde o início de dezembro.
Carro incinerado bloqueia pista de avenida em Ica, no Peru, durante onda de manifestações contra a presidente Dina Boluarte, em 6 de janeiro de 2023.
Martin Mejía/ AP
Os manifestantes negam. “Marchamos pelos assassinatos, pelo massacre na região de Puno de nosso irmãos camponeses. Pedimos a renúncia de Dina Boluarte porque é um governo usurpador”, alegou à AFP Rosario Abanto, de 59 anos.
“Lembrarei do meu tio como uma pessoa muito alegre. É uma pena como o perdemos. Não morreu de morte natural, nem de doença, ele foi assassinado”, contou à AFP a moradora de Puno Sonia Quispe. Seu tio, Marco Quispe, de 55 anos, foi enterrado na quinta-feira no cemitério La Capilla da cidade.
Também na quinta, um jovem de 16 anos internado desde segunda-feira por ferimento de bala morreu.
Renúncia de ministro
Os protestos provocaram a primeira baixa no governo. O ministro do Trabalho, Eduardo García, renunciou e pediu para antecipar as eleições para este ano em vez de 2024, como quer Dina Boluarte.
Além da renúncia de Dina Boluarte, os protestos exigem:
O fechamento do Congresso;
A convocação de uma Constituinte para substituir a Carta Magna de 1993, promovida pelo então presidente Alberto Fujimori e que estabelece a economia de mercado como o eixo do desenvolvimento socioeconômico;
Novas eleições em 2023.
Pedro Castillo
Castillo foi destituído pelo Congresso e detido em 7 de dezembro após uma fracassada tentativa de golpe. Ele quis dissolver o Parlamento, intervir na justiça e governar por decreto. Castillo foi destituído, preso e sua então vice-presidente Dina Boluarte, de 60 anos, assumiu a presidência em seu lugar.
Castillo, que já era investigado por corrupção, cumpre 18 meses de prisão preventiva ordenados por um juiz sob acusações de rebelião.
Cusco, turismo e protestos
Manifestantes com cartaz pedindo antecipação das eleições para 2023 no Peru, em Ica, em 6 de janeiro de 2023.
Martin Mejia/ AP
Em Cusco, uma das cidades mais conhecidas do turismo mundial e ponto de partida para chegar à cidadela de Machu Picchu, o hotel Marriot foi atacado com pedras por manifestantes furiosos após a morte de um líder camponês durante uma confronto com a polícia.
Moradores também queimaram uma cabine no terminal regional de transporte terrestre, atacaram estabelecimentos comerciais e colocaram pedras na linha férrea. Segundo a polícia, 11 pessoas foram presas, incluindo um cidadão colombiano.
A Organização das Nações Unidas (ONU) pediu que o governo peruano respeite os direitos humanos e evite o uso desproporcional da força para reprimir os protestos. Também solicitou às diversas organizações por trás das manifestações que “se abstenham de atos de violência e exerçam o direito de protestar pacificamente, respeitando a vida e a propriedade pública e privada”.

Fonte: G1 Mundo