Associada à bossa nova, a discografia do artista inclui bons discos de MPB na década de 1970. ♪ MEMÓRIA – Cantor carioca que saiu de cena há exatos dez anos, Pery Ribeiro (27 de outubro de 1937 – 24 de fevereiro de 2012) é voz que ainda precisa ser redescoberta e mais lembrada pelo Brasil.
Nem que seja pelo fato de Peri de Oliveira Martins ter sido o cantor que teve a primazia de lançar Garota de Ipanema (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes) em disco, em janeiro de 1963, em gravação editada em single de 78 rotações simultaneamente com o registro fonográfico do Tamba Trio – ainda que, a rigor, o samba tenha sido apresentado em agosto de 1962 em show feito pelos compositores da música com João Gilberto (1931 – 2019) e com Os Cariocas.
Pery morreu vítima de infarto, aos 74 anos. Morreu subestimado, quase esquecido, ofuscado pelas estrelas dos pais, Dalva de Oliveira (1917 – 1972) e Herivelto Martins (1912 – 1992), e mais associado aos ecos do drama conjugal desses pais do que ao próprio canto moderno, de fraseado macio e cheio de bossa, mas também capaz de soar enérgico se a música pedisse.
Tirando os dois primeiros álbuns do cantor, Eu gosto da vida (1961), Pery Ribeiro e seu mundo de canções românticas (1962), ambos de arquitetura mais tradicionalista, toda a discografia do artista ao longo dos anos 1960 gravitou com frescor em torno do universo da bossa nova, cujo cancioneiro tem standards, caso de Rio (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, 1963), apresentados ao Brasil na voz de Pery.
Há nessa fase, inclusive, três discos gravados pelo cantor com o grupo Bossa Três, sendo dois também assinados com Leny Andrade, cantora- sensação do samba-jazz naqueles efervescentes anos 1960.
Pery Ribeiro na capa de álbum de 1962
Reprodução
Contudo, talvez a discografia mais obscura de Pery – a que jaz como joias esquecidas no fundo do baú da música brasileira – seja a registrada pelo cantor na gravadora Odeon na primeira metade da década de 1970.
Nos álbuns de 1971 e 1972, ambos intitulados Pery Ribeiro e somente lançados em CD em 2014 dentro de caixa produzida heroicamente pelo pesquisador Marcelo Fróes para o selo Discobertas, o cantor deu voz a compositores mais identificados com MPB projetada nas plataformas dos festivais, como Ivan Lins e, sobretudo, Taiguara (1945 – 1996) – a cujo repertório Pery dedicaria um disco inteiro em 1999.
Nessa seara da MPB, cabe destacar também o álbum Bronzes e cristais, lançado em 1976 (e nunca editado em CD), com músicas de Chico Buarque, Gonzaguinha (1945 – 1991), João Bosco & Aldir Blanc (1946 – 2020), João Nogueira (1941 – 2000) e Toninho Horta, entre outros compositores, no repertório de alto nível.
Sem obter projeção nesse universo da MPB, Pery se voltou novamente para a bossa nova em discos revisionistas lançados a partir dos anos 1980 e alternados com álbuns em tributos a nomes como Adelino Moreira (1918 – 2002), Nelson Gonçalves (1919 – 1998), o mencionado Taiguara e Wilson Simonal (1938 – 2000), tributado em disco de duetos editado em 2013, um ano após a morte de Pery Ribeiro.
Na fase áurea, o cantor chegou a gravar cinco discos para o mercado internacional – Gemini V en México (1967), Pery (1968), Bossa Rio (1968), Bossa Rio – Alegria! (1969) e Bossa Rio – Live in Japan (1970), este com o pianista João Donato – antes de voltar para o Brasil que, após o fulgurante início de carreira do artista no início dos anos 1960, nunca ouviu com a devida atenção o canto de Pery Ribeiro.
Ainda é tempo por questão de reparação histórica, embora as flores já não possam ser ofertadas em vida.
Pery Ribeiro (1937 – 2012) é o cantor que lançou o samba ‘Garota de Ipanema’ em disco, em 1963
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Fonte: G1 Entretenimento